segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O complexo de vira-lata, a Copa e a Olimpíada

Desde a final da Copa de 1950 até hoje, mais de 66 anos portanto, a política, a economia, a tecnologia e diversos outros fatores mudaram o mundo. Um coisa, infelizmente, não mudou - o complexo de vira-lata presente na sociedade brasileira. O termo criado por Nelson Rodrigues (histórico jornalista e escritor) para traduzir o sentimento de inferioridade nacional após a derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai, em 1950, em pleno Maracanã, ainda é atual.
Nelson Rodrigues considerava o complexo de vira-lata" como "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo". Ele dizia que "o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima".
Sem motivos para nos orgulharmos do nosso país, nossa solução, segundo essa ideia, foi fazer do futebol nossa maior bandeira. A derrota em 1950 destruiu nosso único resquício de orgulho. A derrota ficou marcada não por causa do resultado (vitória e derrota fazem parte do jogo), mas sim pela vergonha que o país sentiu frente ao resto do mundo.
Veio então 1958, Pelé, Garrincha e companhia, o bicampeonato em 1962, e o brasileiro tinha motivos para se orgulhar do país. A Ditadura soube aproveitar e usou o Tri em 1970 para fazer a população acreditar no "país do futuro". Durante décadas acreditamos nesse delírio. Um país com problemas na educação, saúde, segurança, sem democracia, muita miséria, "um dia" seria diferente. 
Quando realmente percebemos que o futuro idealizado nunca chegaria sem que, antes, mudássemos o presente, não procuramos a mudança - escolhemos a piada, a certeza no erro, na falha.
Digo tudo isso porque tivemos dois eventos de tamanho global nos quais o Brasil foi aprovado. Nos últimos anos se tornou frequente ouvir, tanto na mídia quanto nas ruas e internet, que não conseguiríamos terminar as obras. Se fossem concluídas, a violência ia impedir a visita de milhões de turistas que se interessariam em assistir os jogos. Se falava até em invasão ao campo em caso de derrota da seleção brasileira. Quando se aproximava da realização da Copa, surgiram os boatos (alimentados pelos protestos de 2013) de que a população não permitiria o evento. 
Chega a Copa, estádios concluídos, algumas obras prometidas não entregues (um erro cometido na maioria dos países que realizam esses eventos, mas não deixa de ser errado por esse motivo, apenas uma lembrança), a segurança foi reforçada nos locais dos jogos e a Copa foi um sucesso. Próximo do período da Olimpíada, até medo de ataque terrorista nos fez temer o fracasso. Mesmo com falhas e algumas obras não entregues, a Olimpíada foi um sucesso. 
Quem apostou na falha, no fracasso, na nossa incompetência, quebrou a cara. Mesmo não sendo o país que investe em educação, tecnologia, em esporte, etc., conseguimos e mostramos ao mundo nossa capacidade. Podemos fazer muito mais. Antes, devemos superar nosso complexo de vira-lata que nos faz não acreditar em nosso potencial, pensamento que tanto prejudicou e ainda prejudica o país.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Luciano Huck, sim, merece aplausos

Qualquer pessoa tem o direito de dar sua opinião sobre política, assim como defender ou apoiar um partido ou político. Uma pessoa pública deve tomar cuidado ao fazer isso, pois ao apoiar um político pode interferir na escolha do seu fã/eleitor. Quando isso ocorre, ele passa a ser cobrado, talvez tanto como o político eleito, por qualquer denúncia de corrupção, como se fosse ele o acusado.

Luciano Huck, na eleição presidencial em 2014, declarou apoio a Aécio Neves. Veio então a derrota tucana, Aécio como principal nome da oposição, o processo de impeachment, e então, as delações. Para quem tanto batia no governo petista, ser acusado dos mesmos crimes foi um verdadeiro nocaute.

Ainda em 2014, no começo da Lava Jato, milhares (milhões?) de brasileiros colaram adesivos em seus carros e usaram camisetas, em protestos contra o governo de Dilma Rousseff, com a frase "A culpa não é minha, eu votei no Aécio". De repente, esses adesivos sumiram, Aécio e a turma do PSDB passou a ser vaiada em protestos anti-PT, e o papel de Aécio como liderança da oposição, e principalmente, como favorito para 2018, ficava para trás.

Mas isso é outra história. Vamos voltar ao Luciano Huck. Quando o apresentador global apoiou o tucano, levou muitos eleitores indecisos que o admiravam a votar em Aécio, assim como ganhou a antipatia dos eleitores contrários ao senador de Minas Gerais. As denúncias e delações fizeram tanto a antipatia aumentar como os eleitores indecisos se sentirem traídos.

Luciano Huck, nesse domingo (07/08/2016), foi vaiado por parte do ginásio do Maracanãzinho, neste domingo (7), durante a vitória da seleção brasileira masculina de vôlei sobre o México na Olimpíada do Rio (link da matéria em http://bit.ly/2aFNxNu). No intervalo do primeiro para o segundo set, Huck apareceu no telão do ginásio ao ser entrevistado por uma repórter da organização responsável por animar o público dos Jogos, e então as vaias foram ouvidas.

"Ginásio é ginásio. Foi uma parte. Acho que tem a ver com a situação que o país passa", disse ele à Folha de São Paulo. 

Mas o que merece destaque foi o momento em que, questionado se seu posicionamento político pode ter influenciado o público, Huck concordou. Por mais que uma atitude como essa passe desapercebida, ela tem um grande valor simbólico. Se o apresentador reconheceu que o apoio ao tucano pode ter causado as vaias, falta uma reflexão como essa para a imprensa tradicional (TV Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Veja) perceber que quanto mais tomam partido em defesa a um bloco ou ataque a outro só será prejudicada e terá sua relação com parte da sociedade brasileira cada vez mais afetada.

Luciano Huck merece aplausos por reconhecer o óbvio, mas esse mesmo óbvio, seja pelo motivo que for, ainda não foi reconhecido pela imprensa brasileira.

domingo, 7 de agosto de 2016

Pokémon GO ou violência na TV?

Na última sexta-feira, 05/08/2016, acompanhei uma discussão entre internautas. O colunista do UOL, Ricardo Feltrin, na sua coluna OOOPS (matéria no link http://bit.ly/2axfOnF), comentou que o apresentador da Band, José Luiz Datena, disse que quem está jogando não passa de um "poketrouxa", "mané" e "desocupado".
O apresentador "disse que um dos motivos de sua ira é o temor de que aumentem os casos de roubo de celulares".
Minutos após a publicação, começou a pipocar comentários, tanto defendendo a posição e pensamento do apresentador, como criticando. Mas, direto ao ponto, Datena falou bobagem ou não?
Sim.
MOTIVOS
1-) Devemos lembrar que Datena é conhecido por sua postura polêmica. Se alguns programas levam especialistas para comentarem determinado assunto, Datena fala sobre tudo e sobre todos, seja política, economia, ciência, esporte, etc. Assim, ele comenta assuntos sem ter conhecimento aprofundado sobre cada coisa, compartilhando apenas sua opinião, marcada por "achismos".

2-) Essas polêmicas e temas dos mais variados ajudam o programa em duas coisas. Uma delas é diminuir o clima de tensão, medo e até mesmo terror, após reportagens que vão desde assassinato até abuso de bebês pelos próprios pais.. A outra coisa é que essas polêmicas "causam" nas redes sociais. Só na matéria citada do OOOPS, foram 61 comentários, que fazem uma propaganda gratuita do programa.

3-) Datena dá como desculpa o temor que aumentem os casos de roubo de celulares. Um exemplo de alguém que usa o achismo em vez de uma opinião baseada em argumentos aceitáveis. O risco de ser assaltado no Brasil é grande, cm celular ou sem, jogando ou não Pokémon GO. O culpado não é a vítima ter celular ou usá-lo pelas ruas, mas sim das nossas autoridades que não tem competência, inteligência nem vontade de proteger a população. 

4-) Ao chamar quem joga de desocupado, fica a pergunta - como chamar quem assiste um programa que só passa violência, e um apresentador que fica horas falando do mesmo crime, sem nada para acrescentar a sociedade sobre o tema da segurança pública, drogas, etc?

CONCLUSÃO
Portanto, Datena deveria se preocupar com a qualidade de seu programa em vez de se preocupar com que as pessoas fazem nas suas horas de lazer.